domingo, 5 de setembro de 2010

A ficção científica B dos anos 50 parte 2 de 4

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A Ameaça Veio do Espaço

A influência da Guerra Fria na ficção científica B

O terror veio do espaço sideral...
Possivelmente, o maior tema tratado nas ficções científicas da época eram quando humanos confrontavam alienígenas: seres interplanetários que vinham à Terra buscando de alguma forma o controle. Dentre os diferentes tipos de contatos com seres extraterrestres temos: ataque alienígena individual ou de pequenos grupo com algum intuito de sobrevivência; alienígenas que vêm a Terra com o propósito de destruir; invasões alienígenas para destruição em massa do planeta e sutil invasão da Terra, visando a destruí-la usando os terráqueos como hospedeiros.
Além do já citado na parte 1, O Dia em que a Terra Parou, outro filme que marcou bastante o assunto tratado foi A Ameaça que Veio do Espaço, em que mostra um grupo de alienígenas que se transforma em formas humanóides de pessoas do vilarejo onde a nave espacial caiu para conseguir materiais para reparar o transporte. Por se passarem por outra pessoa, carregavam uma atmosfera estranha, perceptível às pessoas mais próximas. A possessão de corpos era um medo insensato, mas lógico dentro do contexto, pois metaforizava a espionagem, por exemplo. Era a incerteza quanto à identidade do vizinho. Mesmo que de maneira muito menos desenvolvida nesse filme, foi o precursor desse tema.
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O Monstro do Ártico
e O Emissário do Outro Mundo são dois filmes que falam sobre o ataque como forma de sobrevivência. No primeiro, após um E.T. e sua nave serem encontrados congelados, ele volta à vida e começa a matar para alimentar sua cria com o sangue humano. Filme arquétipo da paranóia humana quanto à invasão do seres espaciais. No segundo, alienígena vem para a Terra em busca de sangue humano para salvar sua raça da extinção após uma guerra nuclear. Em O Emissário do outro Mundo, duas preocupações se fundem: ataque alienígena e guerra nuclear. clip_image003
A paranóia desses filmes, porém, não reflete o medo ilógico de invasão alienígena pelo puro prazer da destruição, sem motivos aparentes. A Bolha é um filme síntese dessa visão. Lançado no verão de 1958, ele trata de um monólito espacial que cai na Terra e se abre, liberando uma gosma rosa. A gosma se funde com elementos da natureza, e como um ácido corrói a carne humana. A bolha entra num processo de expansão tão grande que engole pessoas e vai destruindo as localidades da cidade por onde passa.
Pergunto: qual o motivo de tanto aniquilamento? Nenhum. Esse ser interplanetário não demonstra nenhum senso crítico ou motivação, tanto que nem forma tem. Era muito comum vermos alienígenas com duas formas: a humanóide, geralmente dotado clip_image004de inteligência, motivações e pensamento lógico; a bestial, geralmente, um ser feroz e selvagem, bruto e desprovido da razão, que ataca simples e puramente, seja amórfica – como A Bolha –, ou seja aparentando um animal sanguinário.
Outros filmes que versam sobre essa temática são It: The Terror from Outer Space, It! The Terror from Beyond the Space, Invasion of the Saucer Men e O Ataque da Mulher de 15 Metros. Os dois primeiros falam de seres interplanetários – no segundo, marcianos – que matam tripulantes de uma missão terráquea em determinado planeta, e tornam-se passageiros clandestinos na missão de resgate. O terror começa por aí, na própria destruição da nave. O terceiro aborda um alienígena que foi atropelado por dois estudantes e como efeito colateral, um olho lhe cresce no meio da cara. A perseguição aos seus malfeitores se inicia, e nada que se depara com ele permanece vivo. Já o quarto, O Ataque da Mulher de 15 Metros, tem um plot cômico, mesmo que seja rodeado pela ficção científica e apresente ameaças à humanidade. Uma mulher rica após contato com um alienígena e sua radiação cresce até a altura de 15 metros e resolve se vingar de todos que lhe causaram algum mal, principalmente do marido que a traía. Misturando também dois medos gerais da população – aliens e radiação -, foge do padrão por apresentar uma história simples do clip_image005desejo humano de não ser ignorado e se tornar notável a ponto de vingança.
A invasão extraterrestre era talvez a temática mais comum dentre os filmes que falam de alienígenas. A invasão como dominação, objetivando destruir a Terra ou seus habitantes para obtenção de controle do status intergaláctico, ou para escravização.
Guerra dos Mundos, baseado na obra de H.G. Wells, é o mais famoso. Mesmo tendo uma produção relativamente superior a dos outros filmes, ainda assim é uma sub-produção da Paramount. Grandes máquinas e naves espaciais aportam na Califórnia, destruindo tudo que se encontra a suas frentes, dominando humanos ou destruindo-os. Ninguém deve sobreviver. Talvez, como os acima mencionados, eles não tenham um propósito claro de invasão à parte da destruição, porém, como vindos em maior número e com melhor aparato militar, visam a uma destruição em massa, ou seja, ter o controle do planeta e/ou de seus seres.
A Guerra dos Planetas, por sua vez, vê um objetivo na dominação da Terra. Uma guerra interplanetária faz com que um planeta quase completamente destruído por ela queira mudar seu habitat natural para nosso planeta, por conseguinte, destruir-nos.
Pela proximidade e desconhecimento em relação a Marte, era comum ser o antro desses devastadores e invasores. Não só em Guerra dos Mundos, como também em The Day Mars Invaded Earth. Ambos tratam de invasões dominadoras de marcianos na Terra. Outras formas de invasões também se deram, como por indistintos alienígenas – ameaça não localizada, ou seja, não há um inimigo comum; lógica da Guerra Fria? -, como em It Conquered the World. Até monólitos já foram objeto de invasão em massa no nosso planeta. Em The Monolith Monsters, pedras espaciais, ao entrar em contato com a água doce, começa e se multiplicar e se alastrar pela pequena cidade, destruindo tudo ao seu alcance.
A forma mais avançada de dominação alcançada talvez – e o auge da paranóia na invasão alienígena – é o uso de terráqueos como hospedeiros para a conquista do planeta. Talvez isso tenha feito com que um filme em particular dessa era tenha sobrevivido tanto tempo, ganhado refilmagens e ainda se tornado um dos marcos do cinema. Vampiros de Almas é o filme mais emblemático de toda ficção científica B. Feito em 1956, o filme não é o primeiro a falar de hospedeiros humanos, mas o que melhor falou.
Ao voltar de uma convenção médica, Doutor Bennell se depara com estranhos fenômenos, como pessoas que estavam desesperadas atrás dele durante a convenção agora não querem mais nada, e como pessoas que dizem que uma certa pessoa da sua família não é mais essa pessoa, que um impostor tomara seu lugar. Aos poucos ele descobre que uma espécie de planta, em forma de casulo, vindo do espaço, rouba a identidade das pessoas fisicamente próximas. Primeiro, uma massa amorfa sai desse casulo, depois se transforma num corpo sem identidade. O último passo vem quando a pessoa em questão está dormindo, pois é quando esse ser absorve a identidade e memória, transformando-se nela.
Na busca pela explicação, Doutor Bennell afirma: “Tanta coisa foi descoberta nos últimos anos que tudo é possível. Talvez seja o resultado da radiação atômica, ou de uma organização alienígena, uma mutação, ou algo do gênero...”.

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Em Vampiros de Almas, a temática da possessão de corpos, iniciada com A Ameaça que Veio do Espaço, alcança seu auge. Vampiros de Almas trata da paranóia completa, em que não sabemos nem mais quem é nosso pai. Estamos sozinhos no mundo, já que não se pode confiar nem no ser mais próximo de nós. Contado com flash-back, têm-no como louco, pois Bennell é o único que consegue escapar. Momentos antes de ser levado para o manicômio, um acidente mostra a realidade dos casulos, mas será que isso foi suficiente para criar confiança? Quem disse que Bennell ou os próprios médicos não são mais um deles?

Terror que Mata
e The Beast with a Million Eyes são predecessores de Vampiros de Almas. O primeiro fala explicitamente em hospedeiro. Uma missão espacial de três tripulantes volta com apenas um, beirando a morte. Aos poucos ele se metamorfoseia num ser bestial que destrói e mata. O superior Doutor Quartermass descobre que ele está sendo usado como hospedeiro de um ser alienígena, e que visa à destruição. Já o segundo, usa o ser humano como hospedeiro por invadir suas mentes e usá-las para o assassinato, causando um grande caos.
Seja qual for a temática principal desses filmes de aliens, o importante é notar a paranóia assumida pela invasão bruta do desconhecido, ou pelo caos que a falta de conhecimento e confiança causa. Um diálogo de Vampiros da Almas exemplifica bem isso, quanto questionado sobre a veracidade da argumentação de que o tio não é mais o tio e a mãe não é mais a mãe:
“ - [É] um tipo de estranha neurose contagiosa. Uma histeria em massa. Pode-se alastrar pela cidade.
- Qual a causa?
- Preocupação com o mundo, talvez.”

Por Gabriel Carneiro


Filmografia citada:

Ameaça que Veio do Espaço, A (It Came From Outer Space, 1953, Dir.: Jack Arnold)
Ataque da Mulher de 15 Metros, O (Attack of the 50 foot woman, 1958, Dir.: Nathan Juran)
Beast with a Million Eyes, The (1955, Dir.: David Kramarsky & Lou Place)
Bolha, A (The Blob, 1958, Dir.: Irvin S. Yeaworth Jr.)
Day Mars Invaded Earth, The (1963, Dir.: Maury Dexter)
Dia em que a Terra Parou, O (The Day the Earth stood still, 1951, Dir.: Robert Wise)
Emissário de Outro Mundo, O (Not of this Earth, 1957, Dir.: Roger Corman)
Guerra dos Mundos (War of the Worlds, 1953, Dir.: George Pal)
Guerra dos Planetas, A (This Island Earth, 1955, Dir.: Joseph M. Newman)
Invasion of the Saucer Men (1957, Dir.: Edward L. Cahn)
It Conquered the World (1956, Dir.: Roger Corman)
It! The Terror from Beyond the Space (1958, Dir.: Edward L. Cahn)
It: The Terror from Outer Space (1953, Dir.: Edward L. Cahn)
Monolith Monsters, The (1957, Dir.: John Sherwood)
Monstro do Ártico, O (The Thing from Another World, 1951, Dir.: Christian Nyby)
Terror que Mata (The Quartermass Xperiment, 1955, Dir.: Val Guest)
Vampiros de Almas (Invasion of the Body Snatchers, 1956, Dir.: Don Siegel)

Em Breve; Parte 3

Fonte; Revista Zingu!

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